segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Raimundos - Raimundos

"Oh, menino, qué isso? Vocês beberam, foi? Que foi que aconteceu? Eu quero é rock. Isso não é rock não."

Lançado em 1994 pelo selo independente "Banguela", dos Titãs (que inclusive fizeram backing vocals em três músicas), o álbum homônimo a banda Raimundos mostrou claramente que o rock nacional nunca mais seria o mesmo. A sonoridade era muito mais próximo do punk e do hardcore, em vez das músicas de balada dos anos 80. A velocidade e a duração das músicas eram muito mais violentas do que o que se ouviu na letra anterior. E as letras eram para o universo jovem, que não queria saber exatamente de protestos e política, mas sim de aproveitar as novas liberdades regadas a álcool, drogas e muita sacanagem. 



Em algumas das milhares de vezes que já escutei esse disco, e assim como fiz com muitos outros, me perguntei como o jovem de dos anos 90 digeriram a música de entrada, "Puteiro em João Pessoa". A temática, de perda da virgindade em bordéis, não poderia ser mais jovem. A letra é complicada de se entender a princípio, mas conta história de um adolescente que levado pelos seus primos a tal estabelecimento, chega a seguinte conclusão: "Foi num puteiro em João Pessoa / Descobri que a vida é boa / Foi minha primeira vez". A música não é tão veloz, o que faz o som já pesado ficar ainda mais forte. É uma porrada.

O disco segue com a excelente "Palhas no Coqueiro", que por sua letra, poderia ser de um típico cantor "brega" (o clipe também flerta com estilo). "Debaixo de um teto de espelhos / É onde tu estar a me chifrar / E eu fico aqui coçando os meus córneos / imaginando em que motel você está". Distorção de baixo e guitarra, bateria rápida e um coro marcante fazem dessa música umas das pérolas do álbum.



Apesar da importância do disco, algumas músicas caíram no esquecimento ao longo que a banda seguiu carreira. "MM´s" é uma dessas músicas. Bem pesada, flertando com o metal, e com uma letra ofensiva e cheia de palavrões, não marcou época. Outras músicas pesadas, porém mais valorizadas, são "Be a Bá", "Rapante", "Bicharada", com uma temática e sonoridade que pode lembrar a banda americana "Misfits", pelos tons mórbidos. 

Mas o grande feito do disco foi misturar as influências clássicas do punk, como Ramones e Dead Kennedys, com o forró que os integrantes da banda escutaram durante sua infância e juventude. Os forrós sacanas e cheios de duplo sentido do Zenilton viraram uma inspiração tanto musical quanto temática para aqueles que se consideravam a "versão paraíba dos Ramones".


Na verdade, o Zenilton virou quase um guru dos Raimundos. É ele que narra as falas do início do disco, lá no começo desse post. Além disso, ele também canta e toca sanfona na melhor música do disco, "Cajueiro/Rio das Pedras", que é de sua autoria, mas obviamente com arranjos totalmente novos, assim como "Deixei de Fumar/"Cana Caiana". "Marujo", que conta a história "que é sobre um maconheiro / que nasceu no Ceará" e "Carro Forte", adaptação de uma música já em domínio público e claro, "Nêga Jurema", que falava sobre um assunto que ainda seria mais explorado no futuro, a maconha.


Chegando no final do disco ainda somos brindados com "Cintura Fina", que num hardcore melódico, conta a história de um sujeito que se apaixona por uma mulher muito feia. Fechando com chave de ouro, tinha que ter uma balada. E sendo os Raimundos, a balada tinha que começar com os seguintes trechos: "Eu queria ser / O banquinho da bicicleta / Pra ficar bem no meio das pernas / E sentir o seu ânus suar".


Depois de quase 20 anos de seu lançamento, realmente é impossível dizer que esse disco teria aquela "qualidade musical" que consagrou seus contemporâneos O Rappa e Chico Science e Nação Zumbi. Mas essa nunca foi a intenção dos Raimundos, ou mesmo do Punk Rock em geral. Eles eram garotos que queriam se divertir, queriam ser astros do rock e esse disco foi o início de umas das últimas grandes bandas de rock do país. Foram vendidas 120 mil cópias, um grande marco para a época. Não é a toa que se diz que esse álbum foi um dos responsáveis pela abertura de portas para novas bandas do rock nacional. Com algumas pérolas que divertem e animas até hoje, esse disco é lembrado por diversas gerações com muito carinho e nostalgia, mas talvez pela falta de caráter político, não é muito lembrado como uma das maravilhas dos anos 90 no Brasil. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário